Dirigido por Jorge Farjalla, o espetáculo “Senhora dos Afogados”, texto de Nelson Rodrigues, estreia noTeatro Porto Seguro – SP dia 23 de fevereiro, sexta.
O elenco traz Alexia Dechamps, Joao Vitti, Karen Junqueira, Rafael Vitti, Letícia Birkheuer, Nadia Bambirra, Jaqueline Farias e Du Machado.
“Senhora dos Afogados” faz parte da saga mítica rodriguiana assim intitulada pelo crítico Sábato Magaldi. Escrita em 1947, segue a linha de “Álbum de Família” (1945), “Anjo Negro” (1946) e “Dorotéia” (1949) e traz uma forte simbologia que se aproxima das tragédias gregas, em que os clãs familiares se entre-devoram num inferno de culpas desmedidas. O projeto desta montagem nasceu de um desejo de Letícia Birkheuer de que Farjalla a desconstruísse num papel de teatro.
Os Drummond, uma família de três séculos, com mulheres que se gabam da fidelidade conjugal, choram a morte por afogamento de Clarinha, uma das filhas de Dona Eduarda e Misael Drummond, e, ao mesmo tempo, prostitutas do cais do porto interrompem suas atividades para lamentar a impunidade do assassinato de uma das suas que morrera há dezenove anos.
Nesta encenação, Jorge Farjalla – depois da ousada e elogiada versão de “Dorotéia” com Rosamaria Murtinho e Letícia Spiller – leva outra vez Nelson Rodrigues ao extremo contemporâneo e destaca a singularidade da religião em suas obras, em que o sagrado se alimenta do profano, teatralizando ainda mais, através dos signos e símbolos, revisitando a obra numa estética que comunga cenário, figurino, desenho de luz, som e música original, em um contexto singular aos olhos do teatro pós-moderno, riscando nesta montagem, mais uma vez, sua visão própria e original do texto com a marca arrojada e diferente que imprime nas encenações que dirige.
“Será uma montagem feita não pra chocar e sim pra refletir. A sociedade está indo para um lugar retrógrado, confundindo liberdade de expressão com exibicionismo. Não quero que o meu modo de ver ou olhar para a obra de Nelson seja rotulado ou criticado sem embasamento. Ao contrário, vamos pensar juntos; não consigo desassociar religião e rito de sua odisseia mítica”, explica Farjalla.
Os atores estarão em cena vivendo todos os personagens, brincando com os arquétipos, para contar e narrar trajetória da família Drummond – nome que tem em seu significado “vindo do mar” – alguns assumindo os ‘vizinhos’, uma espécie de coro da tragédia grega, assim como seus próprios personagens, com sotaque local, pois a peça se passa em Recife, que é o mar da infância de Nelson, onde ele nasceu.
Um farol, sempre presente em cena, teatralmente representado como uma espécie de lamparina que o próprio ator-narrador executará em cena é cenário para a religiosidade dos nativos que vivem no mar e emergem do mangue, para Iemanjá como símbolo de todo o contexto da obra, assim como as canções do cancioneiro popular da beira do rio e do mar, fazendo da encenação única e teatralmente cheia de signos e apresentando um Nelson trágico, profundo, íntimo, patético e absurdo.
Alexia Dechamps, que participou da encenação de “Dorotéia”, agora divide este segundo projeto com Farjalla assumindo a protagonista Dona Eduarda, junto com Karen Junqueira (Moema, irmã do Paulo), que está fazendo Rita Cadillac no cinema. “Dois projetos com o mesmo autor e diretor, um trabalho de identidade de companhia, me colocando num lugar de risco do início ao fim, me provocando e instigando é algo que preciso celebrar. Certamente um momento único, feliz!”, comemora ela.
Já João Vitti e Rafael Vitti dividem pela primeira vez o palco e com personagens que remetem à vida real: pai e filho (Misael e o noivo, respectivamente). E um dos personagens masculinos será interpretado por Letícia Birkheuer, que viverá Paulo, filho do casal pescador, além de Du Machado, o vendedor de pentes. No elenco feminino também estão Nadia Bambirra (Dona Marianinha, a avó) e Jaqueline Farias, a prostituta morta, vizinha e outra prostituta do cais. Aqui vale uma observação: tanto os Vitti como Karen, Letícia e Nádia viverão pela primeira vez um texto de Nelson Rodrigues.
O cenário é assinado por José Dias e a trilha sonora por João Paulo Mendonça – ambos parceiros de Farjalla desde a montagem de “Paraíso AGORA! Ou Prata Palomares”, do roteiro do filme de André Faria, e “Dorotéia” – enquanto figurinos e adereços são de Jorge Farjalla em conjunto com Ana Castilho e a luz de Vladimir Freire e Jacson Inácio.
Ficha Técnica
Texto: Nelson Rodrigues
Direção e encenação: Jorge Farjalla
Elenco: Alexia Dechamps, Joao Vitti, Karen Junqueira, Rafael Vitti, Letícia Birkheuer, Nadia Bambirra, Jaqueline Farias e Du Machado
Dramaturgia: Jorge Farjalla
Direção musical e trilha original: João Paulo Mendonça
Direção de arte e espaço cênico: José Dias
Figurinos e adereços: Jorge Farjalla e Ana Castilho
Desenho de Luz: Vladimir Freire e Jacson Inácio
Preparação Corporal: Jorge Farjalla
Maquiagem e visagismo: Vavá Torres
Assistente de direção: Raphaela Tafuri
Preparação vocal: Patrícia Maia
Design Gráfico: Kalulu Design & Comunicação
Direção de Produção: Lu Klein
“Senhora Dos Afogados”, de Nelson Rodrigues
Local: Teatro Porto Seguro (Alameda Barão de Piracicaba, 740 – Campos Elíseos – (11) 3226-7300)
Data: de 23 de fevereiro a 29 de abril – Sextas e sábados, às 21h, e domingos, às 19h.
Direção e encenação: Jorge Farjalla
Gênero: Drama
Elenco: Alexia Dechamps, João Vitti, Karen Junqueira, Rafael Vitti, Letícia Birkheuer, Nadia Bambirra, Jaqueline Farias e Du Machado
Ingressos: R$ 90,00 plateia / R$ 70,00 balcão/frisas.
Classificação: 16 anos
Duração: 90 minutos